Por tantas vezes esta porta foi batida por mim.
Incontáveis vezes derrubei-a com a força do ciúme.
Fui rotulado de fúria... Fui considerado insano...
E acreditei nestas verdades como absolutas...
Deixei-me abater por acreditar-me irracional...
Deixei-me vencer.... Assumi minhas derrotas...
Recolhi-me à solidão. Me acreditava doente...
Via o amor que sentia como sentimento torto...
Tive a certeza que não sabia amar direito...
O que fazer com este sentimento agora?
Não conseguia arrancá-lo de mim...
Embrulhei-o então e escondi-o bem distante...
Recusei-me a olhar para onde ela estava...
E consegui a doce ilusão do esquecimento...
Aos poucos fui me recuperando... Me curando...
Enxerguei outras paisagens...
Percorri outras trilhas...
Cheguei mesmo a crer que havia aprendido a amar...
Quase consegui sentir que era amado...
Mas os ventos da alma resolveram soprar forte...
Revolveram tudo à minha volta... Me desarrumaram...
E deixaram à mostra aquele amor embrulhado...
E vi que ele continuava ali...
Exposto à minha visão...
E sua força havia se mantido...
Resistido ao tempo...
Voltei-me a ela de coração entregue...
Não consegui resistir...
Fiz-me calmaria... Busquei a mansidão dos lagos...
E tentei ser suavidade onde antes era fúria...
Busquei sensatez onde era insanidade...
Mas o tempo deste amor já passou...
Tentar recuperar o que se perdeu no tempo...
Tentar retomar aquilo que se rompeu...
Inúteis tentativas de um coração saudoso...
Hoje transponho novamente esta porta...
Atravesso-a mais uma vez acompanhada das lágrimas...
Mas desta vez elas são silenciosas...
A dor só esta expressa nos meus olhos perdidos...
Porque saio mansamente...
Fecho-a com cuidado...
O amor talvez seja até maior que antes...
Mas ainda assim saio em silêncio...
Porque rendi-me à sua impossibilidade...
Porque aceitei apenas sentí-lo ao longe...
Olho pela ultima vez todo o passado...
E termino de trancar esta porta...
Cuidadosa e silenciosamente....